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Educação em foco l Sono e Aprendizagem: Como a Neurociência explica o processo de consolidação de memórias

Educação em foco

31 Janeiro, 2017

Sono e Aprendizagem: Como a Neurociência explica o processo de consolidação de memórias

Um tema de grande relevância é a importância do sono no processo de aprendizagem. Dormir bem é garantia de ter boas memórias.

Como mencionei no artigo anterior, a aprendizagem utiliza basicamente três processos: repetição, elaboração e fixação. Dessa forma, uma informação motivadora tem chance maior de ser elaborada, aprofundada e posteriormente fixada. A fixação esta diretamente relacionada a importância de se dormir bem. O sono representa a existência de formas funcionais alternativas de organização do cérebro e não a ausência de atividade neurônica coordenada. O sono é dividido em duas fases. A primeira fase conhecida de sono profundo ou fase não-REM (Rapid Eye Moviments), é subdividida em 4 subfases onde observamos basicamente: a transição entre o estado de vigília e o sono com liberação de melatonina (neurormônio responsável pelo controle do sono - subfase 1); diminuição dos ritmos cardíaco e respiratório (sono leve), relaxamento os músculos e queda a temperatura corporal (subfase 2); os movimentos oculares tornam-se raros e o tônus muscular diminui progressivamente (subfase 3); liberação do GH (hormônio do crescimento) que pode provocar aquele momento que pulamos na cama, da leptina (hormônio produzido pelo tecido adiposo para controle da saciedade, ou seja, para não sentirmos fome enquanto dormimos) e cortisol (hormônio relacionado ao estresse - acordar é um estresse - começa a ser liberado até atingir seu pico, no início da manhã para acordarmos) (subfase 4).  A segunda fase é a fase de sono REM, onde observamos a máxima hipotonia da musculatura esquelética, ou seja, não conseguimos nos mexer. É nessa fase que sonhamos e, estudos já demonstraram que é onde a consolidação das memórias ocorre. Durante o período de sono, normalmente ocorrem de 4 a 6 ciclos bifásicos com duração de 90 a 100 minutos cada, sendo cada um dos ciclos composto pelas fases de sono profundo (NREM), com duração de 45 a 85 minutos, e pela fase de sono REM, que dura de 5 a 45 minutos.

Todos nós temos uma memória conhecida como memória de trabalho, localizada no Lobo Frontal (parte anterior no nosso cérebro) e essa memória é utilizada todos os dias para integrarmos os novos conhecimentos que adquirimos com os que já possuímos. Já uma estrutura cerebral localizada no Lobo Temporal (região das temporas) denominada hipocampo, é responsável por receber as novas informações do dia-a-dia, integrar essas novas informações com as informações já existentes na memória de trabalho, formar novas memórias e enviar todas essas informações para o córtex cerebral para a consolidação das novas memórias. Pensando nisso, durante todo o dia nós alimentamos nosso hipocampo com novas informações e juntamos a essas, informações já existentes. Assim, no final do dia temos muitas informações no hipocampo, dentre elas, informações não relevantes que precisam ser eliminadas. É nesse momento que entra a importância de dormir bem. Ao dormirmos, nosso cérebro começa o processo de "limpeza",  organização e consolidação de memórias. Um boa noite de sono nos garante um novo dia com hipocampo totalmente "limpo" e organizado para receber novas informações. Noites mal dormidas representam acordarmos com nosso hipocampo ainda "bagunçado". Várias noites mal dormidas podem levar a uma estafa mental a médio e longo prazo.

Qualidade de vida está diretamente relacionada a dormir bem. Diante disso, que 2017 seja de bons estudos e noites bem dormidas para termos boas e eficientes memórias. 

Alexandre Rezende

Experiência e formação: Biólogo graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, mestre e doutor em Morfofisiologia do Sistema Nervoso pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. De 2002 a 2009 desenvolveu projeto de pesquisa na área de Neurobiologia enfatizando o estudo da neuroregeneração em doenças neurodegenerativas e neurotraumas pelo Departamento de Fisiologia e Biofísica da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Atualmente, atua na área de Neurociência aplicada a Educação pela PUC-Campinas e pelo Instituto Brasileiro de Formação de Educadores (IBFE). Atua também como professor de Fisiologia, Biofísica, Histologia, Biologia Celular e Processo Ensino-Aprendizagem na Vida Universitária junto a Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Desde 2013 desenvolve na PUC-Campinas, Prática de Formação visando o estudo do cérebro na aprendizagem e memória, intitulada Neurociência e Educação. É professor de Neurofisiologia no curso de Pós-Graduação em Neuropsicologia da Infância e da Adolescência junto a Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Professor de Neuromarketing na Inova Business School. Além disso, é o professor responsável do curso de extensão Mente, Cérebro e Envelhecimento junto a Universidade da Terceira Idade da PUC-Campinas, desde 2014.