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Educação em Foco l A ARTE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO SENSÍVEL DO PROFESSOR

Educação em foco

31 Maio, 2017

A ARTE NO PROCESSO DE FORMAÇÃO SENSÍVEL DO PROFESSOR

Luciana Haddad Ferreira (Nana)

Coordenadora do curso de Arte e Educação

Instituto Brasileiro de Formação de Educadores

 

Minhas experiências no campo da Educação Estética têm levado a pensar nas relações que estabelecemos com a escola e o quanto precisamos desenvolver a formação sensível de nossos alunos.

Falar sobre este tema é desafiador pois exige, antes de qualquer coisa, a certeza de que educar vai além da mera transposição didática e da apreensão de conteúdos. Fazer tal afirmação em tempos de debate sobre a responsabilidade da escola na formação ética e política do país é ainda mais sério. Se temos a certeza de que são os exemplos e a convivência que auxiliam a construção de uma personalidade sensível e crítica, sabendo que as crianças, adolescentes e jovens vivem parcela representativa de tempo na escola, reconhecemos o papel indiscutível dos professores e assumimos que até a falsa perspectiva de imparcialidade é maneira de posicionar-se e ensinar como agir.

Não digo, com isso, que os saberes escolares sejam menos importantes. Penso, apenas, que esta é uma compreensão já alcançada e, por isso, fora da reflexão aqui proposta. Convido a olhar para o modo como nos responsabilizamos pela educação estética de nossos alunos e consequentemente para a necessária formação sensível dos docentes.

Formação estética remete à educação dos sentidos, ao modo como ensinamos nosso corpo e nossa cognição a simbolizar e reconhecer significados nas coisas que aprendemos e vivemos. Dizemos que a educação é estética quando percebemos nela certa carga de estesia (capacidade de percepção sensível da realidade), ou ainda quando não nos permitimos anestesiar diante dos acontecimentos cotidianos.

As propostas de trabalho realizadas na escola precisam ser pensadas de modo a favorecer as habilidades sociais, tão importantes para o desenvolvimento sensível.  É preciso estimular o diálogo no lugar de favorecer a mera comunicação de pontos de vista. Incentivar a cooperação e não a competitividade exagerada, valorizar a tolerância e convivência em vez da impaciência e rejeição do diferente. Priorizar a criatividade em detrimento da reprodução de técnicas e respostas prontas, exercitar a fruição e contemplação no lugar do bater os olhos. Criar situações de trabalho coletivo em contrapartida ao individualismo, mostrar que cada vida é importante e não aceitar massificações.

Vigotski, importante pesquisador russo, já afirmava no início do século XX que as linguagens são estruturadoras do pensamento e determinam nossa capacidade de execução de funções psicológicas como conceituação e simbolização. Por isso, precisamos aprender a pensar por imagens, em rede de significados que se interconectam. Este modo de compreensão é cultivado pela apropriação de linguagens diversas, que devem ser intencionalmente contempladas no momento de planejamento das aulas (de todas as aulas, independente da disciplina ou especialidade do professor). Aprendemos mais e compreendemos melhor quando nos valemos de formas expressivas diversificadas: paródias, infográficos, jogos, cantigas, poesias, esquemas visuais, literatura, criações corpóreas, pinturas, registros fotográficos, performances, mapas conceituais, culinárias, experimentos, invenções.

            Ao mesmo tempo em que tal compreensão acena para a urgência de uma alteração importante no modo como pensamos e planejamos a aula, aponta para o desafio do próprio professor nutrir-se de saberes sensíveis. Não há fazer pedagógico que se sustente se não houver experiências estéticas fundantes da profissionalidade docente. Temos, então, o desafio de buscar elementos e enriquecer nossa própria prática para uma atuação mais compromissada e sensível com os alunos.

 

Luciana Haddad Ferreira (Nana)

Doutora em Educação pela Unicamp, especialista em Educação e em Arteterapia. Pedagoga licenciada pela Unicamp, é membro do GEPEC (FE/UNICAMP). Tem pesquisas relacionadas à área de formação docente, especialmente nas aproximações entre Arte, Estética e Experiência na formação de professores. Atualmente, é Coordenadora Pedagógica da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental. Tem 18 anos de experiência em docência na Educação Básica e 9 anos de experiência como formadora de professores. Possui diversas publicações na área.