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Pensar, Conhecer e Realizar - A Educação de hoje a influência da cristianização da Paidéia grega - por Jorge Luiz da Cunha

Os conceitos e práxis educativas gregas, relacionadas à Paidéia - séculos V a II a. C. -, e universalizadas pelo Império Romano - séculos I a. C. a IV d. C -, foram cristianizadas durante o período feudal europeu, entre a queda do Império Romano do Ocidente e o início da modernidade capitalista, período entre os séculos V e XV.

O cristianismo nasce entre as classes mais baixas do império romano, os pobres, servos e estrangeiros. Mas, por sua associação a princípios religiosos e práticas sociais de igualdade e justiça, ganha dimensões que ultrapassam as demais crenças e organizações religiosas, alcançando também membros das classes superiores da estrutura hierárquica da sociedade e cultura romanas. No ano de 380, através do Édito Tessalônico de Teodósio Augusto, imperador de Roma, tornou-se religião oficial do estado, no Império Romano, passando a ser organizada em precisa estrutura hierárquica que reproduz até os tempos presentes a organização política romana daquela época.

Neste período encontramos uma apropriação cristão do idealismo platônico e consequentemente dos conceitos e práxis relacionadas a formação humana, a Paidéia; que vai caracterizar todo o período feudal europeu.

Agostinho de Hipona (354-430), mais conhecido como Santo Agostinho e considerado um clássico do cristianismo e da filosofia medieval, fundamenta teoricamente e legitima os conceitos e as práticas educativas de forma essencialmente catequética. Ou seja, a verdade que pode ser conhecida está em Deus. E este conhecimento é transmitido por aqueles que através de sua fé e ações acessaram a verdade divina, através de descrições narrativas convencionadas que possam estimular os que ouvem e creem.

Uma experiência memorial de Agostinho, relacionada com a educação de seu filho Adeodato, foi registrada por ele num livro intitulado De Magistro, onde reafirma o papel da narrativa como instrumento, associada ao idealismo platônico agora cristianizado:

Analogamente tu, e todo o homem que aprecie as coisas pelo seu justo lado e valor, a um charlatão que dissesse: "Ensino para falar", responderias: "homem, e porque antes não falas para ensinar?." Ora, se estas coisas são verdadeiras, como aliás reconheces, observa quanto as palavras devem ser consideradas de menor importância em confronto daquilo por que as usamos; tanto mais que o próprio uso das palavras já é de se antepor às mesmas; as palavras, pois, existem para que as usemos, e as usamos para ensinar. Logo é melhor ensinar do que falar, e, assim, é melhor o discurso que a palavra. Muito melhor que as palavras é, portanto, a doutrina.

(SANTO AGOSTINHO).

A superação do agostinismo e de sua influência sobre a educação é alcançada apenas por volta do século XI, por pensadores que fundamentam os princípios teóricos e práticos da escolástica ou escolasticismo, como Anselmo de Cantuária (1033-1109), Pedro Abelardo (1079-1142) e Hildegard von Bingen (1098-1179), conciliando a fé cristã com o racionalismo, ou seja, trazendo para o mundo prático, especialmente para os espaços formativos escolares o princípio dialético do exercício dinâmico entre o acreditar, para buscar entender, e o entender para que se possa acreditar. Um processo existencialista intimamente associado ao realismo dialético da Paidéia grega. Um conceito que encontra reinterpretações críticas em pensadores como Tomás de Aquino (1225-1274), considerado o pai do racionalismo natural e da teologia, ao expressar dialeticamente que a verdade divina (de Deus) ou a verdade material pode ser conhecida através da fé ou da razão, preferencialmente através da síntese das duas. Uma teoria que alcança grande aplicação no campo da educação moderna através de ações concretas de racionalização da realidade vivenciada e necessariamente significada.

Nos períodos de consolidação da modernidade capitalista, que se estende até o tempo presente, encontramos importantes teorias e metodologias associadas à educação. Espaços escolares formativos, que são ferramentas de construção de sujeitos das modernas classes sociais: - as classes "inferiores", especialmente o proletariado, não proprietárias, previsíveis, controláveis e consequentemente exploráveis; e, - as classes "superiores", especialmente a burguesia, elites proprietárias, dominantes, controladoras, conservadores e reproduzíveis.

Em pensadores como David Hume (1711-1776) encontramos os princípios fundamentais do empirismo radical e do ceticismo subjetivo, que alimentam os processos empíricos de constituição do capitalismo tradicional europeu, que a partir dos processos industriais de desenvolvimento econômico, nos séculos XVIII e XIX são globalizados.

Este empirismo associa-se ao utilitarismo socioeconômico e ao liberalismo político vinculado principalmente à produção científica de John Stuart Mill (1806-1873); e ao positivismo, especialmente comtiano, com grande influência das obras de Auguste Comte (1798-1857). Estas teorias têm uma grande influência histórica na construção de estados constituídos a partir da independência de ex-colônias espanholas, portuguesas, mas também inglesas, holandesas e francesas na segunda metade do século XIX, principalmente na América e na África.

Esta construção política associa-se igualmente aos conceitos e práxis relacionados com a educação, entendida como ação de formação de trabalhadores e reprodução de elites, como anteriormente descrito. Ou seja, trabalhadores podem ser sustentados e explorados a partir da formação educacional de sua consciência de forma reprodutiva e ferramental - eminentemente técnica. Membros da elite, são formados em escolas qualificadamente conservadoras, na formação de sujeitos que desenvolvam estratégias sociais e políticas de legitimação de seus papeis, não raro autoritários e exploradores. Um exemplo encontramos na hierarquização de áreas de conhecimento e de disciplinas escolares: - disciplinas exatas e naturais (matemática, física, química e biologia) são consideradas mais importantes do que disciplinas sociais e humanas (geografia, história, sociologia, filosofia); e disciplinas como artes, educação física são (não raro) consideradas marginais ou desnecessárias.

Pensar sobre a história, significá-la como possibilidade de compreensão do presente nos disponibiliza estratégias para repensar a educação e transformá-la em alternativa de superação dos imensos problemas que vivemos no mundo presente.