O que a sociedade tem a aprender com o caipira?

Notícia

30 Junho, 2020

Ao longo dos anos, o processo de urbanização evoluiu com muita rapidez. Se antes a maioria da população estava concentrada no campo, hoje as cidades vivem até uma superlotação.

Mas os "caipiras", assim chamados os moradores das áreas rurais, ainda são importantes para a sociedade. Não só por serem responsáveis por uma das maiores riquezas do país, a agricultura, mas também pelos seus enormes valores culturais.

Conversamos com o jornalista e ex-apresentador da EPTV, afiliada da TV Globo no interior de SP e no sul de Minas, Daniel Perondi, que tem uma relação muito íntima com a vida rural.

Apesar de ter crescido e morado grande parte da vida em cidades do interior de São Paulo, seus pais e avós tinham propriedades rurais e isso fez parte da sua infância.

"Gostava de ir passear e tinha contato com as pessoas que moravam lá. Era uma relação que trazia muitas coisas novas para mim através do contato com a natureza, com os animais e com um jeito diferente de olhar os fatos. Depois de adulto, morei bastante tempo em Piracicaba e Campinas, mas continuava com relação com pessoas do campo principalmente por causa da música, do jornalismo e da prosa boa". - disse Daniel.

Em 2018, Daniel e a esposa resolveram fazer um êxodo diferente do normal. Eles deixaram o centro urbano, saíram de empregos estáveis e foram morar no campo.

"Fomos morar e cuidar da comunicação de um hotel em Joanópolis e tivemos muito contato com a vida no campo de novo por quase dois anos. Agora vivemos em Atibaia, mas vejo como a natureza faz bem para gente e pro meu filho que está com 3 anos".

Segundo Daniel, o homem do campo mudou muito sua personalidade com o passar do tempo, mas hoje enxerga que o caminho de volta às áreas rurais é uma realidade presente cada vez mais para as famílias:

"Nos últimos 50 anos houve um grande movimento de famílias vendendo suas pequenas propriedades e indo morar nas cidades. Não existiam muitas políticas públicas de incentivo aos produtores e era muito difícil se manter na roça. Existia também um sonho de uma vida mais tranquila na cidade, o que muitas vezes se mostrou um equívoco. Mas isso acabou gerando muitas trocas entre a cidade e o campo. As famílias também estão mais próximas das tecnologias, do agronegócio e da educação. Isso foi dando um empoderamento para o homem do campo. Muitas famílias estão fazendo o caminho inverso e voltando para o campo".

Sobre a importância do caipira para a sociedade moderna, Daniel pensa que os moradores das áreas rurais têm muito a contribuir com os seus olhares diferentes:

"Na cidade crescemos olhando muito para o externo. Precisamos conquistar coisas para sermos felizes e termos a admiração dos outros. Aí entramos em um ciclo quase sem fim de insatisfação porque a felicidade não está fora nestes pequenos prazeres. O caipira nos lembra a importância da simplicidade e da natureza. Quando olhamos mais para dentro e percebemos nossas reais necessidades, vemos que colocamos muito peso nas nossas costas à toa. Isso gera doenças, tristezas e falta de sentido para a vida. O caipira acorda cedo e é feliz por estar ali vivo, mesmo com as dificuldades do caminho. Está ligado ao presente e não em projeções do futuro ou angústias do passado. São muitas lições para a gente".


Entrevista a Víctor Freitas em 23/06/2020.

#IBFE #Educacao #Pedagogia #Inovacao #Campinas


Este conteúdo é de inteira responsabilidade de seu autor, cuja opinião não necessariamente expressa a visão do IBFE.