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Neurociência e Comunicação-O poder das palavras - por João Rilton

Neurociência

21 Março, 2018

Quando pronunciamos palavras estamos resgatando significados, palavras são símbolos. Símbolos são objetos, sons, imagens, sensações que estão conectados a toda uma rede analítica de compreensão e justificativa de pensamentos. Uma palavra por si só não tem nenhum significado, apenas é som em estado puro. A palavra saudade, por exemplo, é apenas um agrupamento sonoro de fonemas conhecidos, porém carrega consigo um mundo de informações que estão conectadas à história pessoal de cada indivíduo. A palavra saudade pode ter significados absolutamente diferentes de pessoa para pessoa, pode ser de imediato ligada a algo negativo, caso tenha sido feita, durante a vida, uma relação entre essa palavra e acontecimentos negativos do dia a dia. Para mim, a palavra saudade faz com que imagens relacionadas ao meu pai, que já é falecido, sejam trazidas à minha consciência. Eu vejo imagens dele sorrindo, imagens de um certo gesto que ela fazia com os braços quando queria brincar comigo. Quando ouço a palavra saudade, o significado que me chega é mostrado por minha reação emocional, e nesse meu caso, uma excelente reação emocional. Ela toma conta da minha consciência, me sinto leve, me sinto como se tivesse tomado um relaxante muscular. Todos esses efeitos psicológicos e físicos, são ocasionados por conta de reações químicas que ocorrem quando a palavra/símbolo "saudade" chega aos ouvidos.

Portanto, mais importante que a palavra dita para alguém é o significado que essa palavra tem para esse alguém. Uma mesma palavra pode afetar emocionalmente duas pessoas de formas absolutamente diferentes. Uma dessas pessoas pode se emocionar com o som, e com isso, essa palavra pode servir de apoio emocional para o ouvinte. Mas, a mesma palavra dita a outra pessoa pode travá-lo, deixa-lo sem criatividade, por conta do efeito químico que essa palavra terá no cérebro do ouvinte. Para ser mais exato, isso acontece por conta da reação química que houve no cérebro, reação essa que é estimulada por lembranças do passado que estão relacionadas a essa palavra. 

O interessante é que temos pessoas que se utilizam com mais habilidade dos recursos visuais, que exploram e julgam o mundo, na maior parte do tempo, através de imagens. E temos pessoas auditivas, onde esse julgamento do mundo é feito pelo que se ouve, e ainda temos pessoas que tem predominância no comportamento cinestésico, ou seja, dão valor para sentimentos e emoções físicas. Todas essas preferências de funcionamento nas pessoas irão se relacionar, de forma diferente com as palavras, pois elas representam o sistema de absorção do mundo, o seu sistema representacional, seja ele visual, auditivo ou cinestésico.

O que fica de informação chave nesse texto é a necessidade de prestarmos atenção nos padrões de linguagem, frases e palavras que usamos. Se temos uma palavra que pode gerar múltiplos sentidos, é aconselhável que se esteja muito atento quando pronunciar essa palavra, e perceber quais são as reações emocionais do ouvinte. Toda palavra gera uma emoção específica, mas não rotulada, é diferente de ser humano para ser humano. A palavra amor, não necessariamente, gerará sentimentos agradáveis. Se você utilizar essa palavra para alguém que acabou de terminar um relacionamento amoroso, ou que sofreu uma desilusão nesse assunto, ela não terá sensações agradáveis e sim o contrário disso. É muito importante, para estabelecermos uma boa comunicação estarmos atentos nas palavras que usamos. E viva a comunicação!