Música, Neurociência e Aprendizagem - A Música na Educação Infantil - por Junior Cadima

10 Julho, 2019

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Junior Cadima
Psicomotricista educacional, Psicopedagogo e Músico

Desde cedo, o bebê demonstra interesse por ritmos, sons musicais e a receptividade ao som é um fenômeno corporal. Isso acontece porque com o passar do tempo a criança começa a experimentar os sons que pode produzir com a boca e ela vai se percebendo capaz de reproduzir esses sons, que logo serão acompanhados pelos movimentos corporais. Por exemplo: fazer um som com a boca e mexer os braços.

Durante a infância o cérebro humano é mais maleável e os efeitos da aprendizagem são maiores do que qualquer outra fase da vida (Flohr, Miller & Deebus, apud Illari, 2006). As atividades com música, seja por meio da execução de um instrumento, brincadeiras ou jogos rítmicos, auxiliam diretamente no desenvolvimento cognitivo da criança. Para Bréscia (2003), as atividades musicais oferecem meios que auxiliam na construção do conhecimento e contribui de forma ativa no despertar do gosto musical, desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, o prazer em ouvir música, a imaginação, memória, atenção, autodisciplina, o respeito ao próximo, a socialização, a interação, afetividade e, também no desenvolvimento da coordenação motora e consciência corporal.

Nesse sentido, os estímulos recebidos são extremamente importantes para a construção da estrutura neural (conexões de neurônios) e do comportamento da criança. Vale ressaltar que em cada etapa do desenvolvimento motor da criança, os movimentos vão se tornando mais elaborados e influenciam na aquisição das habilidades mentais (Miranda et al., 2015). 

Desta forma, as atividades musicais na educação infantil devem ser encaradas como ferramentas facilitadoras do desenvolvimento e aprendizagem da criança, sendo utilizadas de forma lúdica e prazerosa. Os educadores não devem impor uma situação à criança e, sim, oferecer meios de interação por meio dos sons e do ritmo. Dallabona e Mendes (2004) ressaltam que é de grande importância as brincadeiras estarem inseridas no contexto da educação infantil, pois elas irão auxiliar na aquisição de diversas habilidades que serão fundamentais durante o processo de alfabetização, como: desenvolvimento da linguagem, expressão verbal e não verbal, raciocínio, relação com outras crianças, coordenação motora, autoestima, autonomia, autoconfiança, respeito ao próximo, atenção, memória, cooperação, criatividade e curiosidade.

Para Kishimoto (2010), o brincar e as brincadeiras são elementos essenciais para o processo de estimulação da linguagem, e as brincadeiras musicais podem ser utilizadas com muita facilidade em todo esse processo.

De acordo com pesquisas (Olmedo, Recás e Rodríguez, 2008; Hallaam, 2010; Miendlarzewska e Trost, 2014; Holmes e Hallam, 2017; Benítez, Abrahan e Justel, 2018), a música quando utilizada nas brincadeiras com as crianças ou no aprendizado de um instrumento, torna-se uma ferramenta valiosa para o desenvolvimento da motricidade e de outras habilidades. Através dela a criança brinca, movimenta-se com mais frequência, relaciona-se com outras crianças, treina a atenção, a capacidade de focar, inibir um comportamento e planejar ações. Isso interfere na estrutura corporal, no comportamento motor, na socialização e na externalização dos sentimentos.

Para Muskat (2016), a música exerce uma grande influência no funcionamento cerebral. Ela age diretamente e modifica a comunicação de todas as áreas cerebrais. A motricidade também é muito exigida e o processo de internalização de um ritmo com movimentos repetitivos, por exemplo, é complexo e exige o recrutamento de uma extensa circuitaria neural (LOURO, 2012).

Um estudo realizado em 2015 por uma equipe de fonoaudiólogos da PUC - Goiás, comprovou por meio de uma pesquisa "caso-controle" a eficácia das aulas de musicalização para a estimulação da consciência fonológica em crianças de 4 anos. Participaram da pesquisa 20 crianças (todas com 4 anos de idade e mesmo nível socioeconômico), sendo que 10 delas frequentavam aulas de musicalização a mais de 2 anos e as outras 10 não tinham vivência musical.

Após a avaliação que foi realizada para mensurar as habilidades em consciência fonológica, ficou constatado uma maior pontuação no teste por parte das crianças que participavam das aulas de musicalização, sugerindo o quanto as atividades com música auxiliam na estimulação de habilidades que são preditoras para a aquisição da leitura e escrita. 

Por meio da música a criança incorpora experiências, vivências e interage com mundo. As atividades com ritmo irão possibilitar o conhecimento do próprio corpo, das suas capacidades e serve como um instrumento de comunicação. Nesse sentido, podemos destacar as atividades musicais na educação infantil como uma relevante ferramenta lúdica e que auxilia no processo de aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento global da criança, o que irá envolver os aspectos psicomotores, cognitivos, emocionais e sociais.