Professor sem Fronteiras - Como evitar o abismo educacional?

Como evitar o abismo educacional?

Depois de mais de dois séculos de pedagogia moderna, notamos que fracassamos e que podemos reorganizar todo o processo educacional.

A Escola deve ter em seu projeto político-pedagógico o objetivo de formar jovens para viverem em um mundo globalizado, que exige respeito, tolerância, responsabilidade e solidariedade. A escola, para ser inovadora, pode abrir mão da divisão por séries para integrar todas as disciplinas em torno de desafios reais. Essa proposta busca fortalecer a autonomia dos alunos. No início de cada bimestre, eles resolvem quais assuntos desejam aprender.

Após reflexões sobre o projeto de vida, há discussões de temas globais como tecnologia e meio ambiente. Os alunos devem optar por oficinas de aprendizagem que envolvem a turma na solução de diferentes desafios. Em equipes, fazem pesquisas e desenvolvem projetos para responder aos questionamentos elaborados pelos professores.

Todas as disciplinas convergem para pautá-los e subsidiá-los na resposta a essa situação problema, que é apresentada no início do projeto. As aulas devem ser ministradas em português e em inglês. Durante uma aula/oficina que envolve economia, por exemplo, a aula de matemática poderá ajudar a entender juros simples e compostos, enquanto história trata de revolução industrial e a biologia aborda o impacto sobre o meio ambiente.

Além de conectar as aprendizagens ao mundo real, essa estratégia estimula o protagonismo dos estudantes e o trabalho em equipe, já que eles devem gerir problemas e dividir tarefas. Quando existir um problema que o grupo não consiga resolver, o setor pedagógico entra em ação e faz um acompanhamento para que eles consigam aprender a trabalhar essas questões relacionais, que certamente nem sempre são fáceis.

Para lidar com essas questões relacionais e também acompanhar de perto o desenvolvimento dos alunos, os professores devem assumir um papel de tutores. Acaba sendo bastante desafiador, pois o professor tem que fazer um trabalho muito intenso antes de entrar na sala de aula. Não basta dar o comando para o aluno pesquisar.

Os professores também devem trabalhar em equipe e ter muita sintonia com os colegas para integrar conteúdos de diferentes disciplinas. A ideia é encontrar temas norteadores que possam ser encaixados nas disciplinas e pensar naquilo que eles têm em comum. Semanalmente, a equipe pedagógica deverá se reunir para discutir o tipo de oficinas que será oferecida, compartilhar atividades e elaborar desafios. O desafio não pode ser uma pergunta específica, muito simples ou fechada, que o aluno possa responder com apenas sim ou não.

Na hora de avaliar o grupo e verificar se conseguiu solucionar o desafio, a avaliação também ganha um novo formato. A avaliação deve ter um componente processual. Os professores devem fazer um acompanhamento do processo cognitivo e do processo relacional. Para isso, os instrumentos de avaliação são variados, incluindo apresentações, atividades escritas, relatórios, projetos e participação.

Após passar pelas oficinas de aprendizagem, o aluno deverá avaliar se esse formato contribui para ampliar as habilidades de comunicação e mesmo ter perdido a timidez, já que bimestralmente o aluno precisa trabalhar em diferentes equipes e, no final, apresentar uma solução para o desafio proposto.

A interação humana educa, humaniza. Ser empático nos salva da violência, da solidão e da insignificância na nossa vida adulta. Os jovens, com suas indagações filosóficas, suas brincadeiras criadoras, o seu afeto, ajudam a salvar das desumanizações.