Pensar, conhecer e realizar - Educação Colaborativa - por Jorge Luiz da Cunha

A reflexão sobre o conhecimento e seu significado como instrumento político de construção de um projeto de sociedade justa e igualitária somente pode ser assumido a partir de uma perspectiva de educação colaborativa. Este conceito de educação se insere no âmbito das iniciativas de intervenções inovadoras, criativas, efetivamente conscientes. Quando aplicadas no espaço educacional elas objetivam transformar uma realidade específica - tradicional, conservadora, reprodutivista -, em comunidades críticas de professores e alunos que problematizam, pensam e reformulam suas práticas, tendo como fim a emancipação dos sujeitos que participam deste processo.

Nas práticas docentes e de gestão no campo da educação, é fundamental a perspectiva e o foco no conhecimento. Uma perspectiva dialógica, problematizadora e criativa mostra-se questionadora da visão de pretensa objetividade e neutralidade do denominado conhecimento universal. O conhecimento, a partir da concepção emancipatória, não mora no sujeito e nem no objeto. É construído no diálogo e compartilhamento dos sujeitos com outros sujeitos e destes com os contextos em que estão inseridos através de ações colaborativas em rede e de situações problematizadas. Seguindo por este raciocínio, é necessário concluir que não há neutralidade do conhecimento, que é afetado pelas ações de cada tempo e espaço de acordo com os interesses e o campo de forças em que acontecem as ações, as conversações e os embates. Os pertencimentos ideológicos, de gênero, étnicos, as linguagens, e outras tantas condições humanas interferem na construção do conhecimento, de uma forma ou de outra.

O que chamamos de educação colaborativa considera as seguintes condições básicas para o desenvolvimento dessa forma de ação formativa, a saber: - a definição do tema ou problema básico; - o levantamento ou investigação, a discussão dialógica, que se estabelecem a partir de uma determinada realidade social que permite perceber a existência de condições para  mudar, transformar, melhorar; - esta mobilização considera a espiral de planejamento, ação, observação, reflexão, nova ação; e, - o processo educativo é desenvolvido de forma colaborativa. Aqui é importante salientar que esta proposta pedagógico-educativa não se limita as disciplinas da área das ciências sociais e humanas, mas aplica-se a todas as áreas/disciplinas do conhecimento sem distinções.

A escolha por esse tipo de ação educativa emancipatória, que se apresenta como alternativa diante da naturalizada prática ancorada na mera transmissão de informações (conteúdos de disciplinas escolares), precisa ser experimentada e pode se consolidar no espaço educativo. Contudo, é importante deixar claro que tudo o que já foi criado, produzido, preservado, não pode ser desprezado. É a reserva técnica, a matéria prima com a qual bons educadores começam seu trabalho. O passo seguinte é a discussão crítica, dos limites e possibilidades do que já existe. E, o foco deve estar na emancipação, ou seja, na desnaturalização e estranhamento: - base para a criação de novas respostas, novos conhecimentos, novas e alternativas tecnologias. Finalmente, penso que é importante avaliar continuamente este processo educativo, ou seja, investigar a própria ação educativa e nela intervir.

Neste processo, professores e alunos se tornam mais autoconscientes sobre suas potencialidades pessoais, políticas, de transformação de suas próprias vidas e de seu papel na sociedade. A educação colaborativa coloca os sujeitos envolvidos no centro da prática educativa; e, não simplesmente os docentes como transmissores de informações/conteúdos disciplinares, "sabedores da verdade" a ser repassada para os que ainda não a conhecem; e, os discentes como repositórios de um saber e conhecimento de cuja criação e reprodução não participam. Sujeitos cognoscentes, professores educadores e alunos não somente como produtos de um conceito e de uma prática educativa, mas fundamentalmente como agentes de sua própria vida e construtores de um mundo melhor para todos. 

Essa escolha significa romper com métodos tradicionais, com a ingenuidade da visão empírica ao tentar tratar da educação com pretensa objetividade e neutralidade sem passar por elaboração teórica, sem estudo aprofundado sobre categorias que envolvam qualquer tema, pois que ao tentar descrever qualquer objeto ou realidade social, o educador se vale da linguagem e esta vai estar sempre comprometida com algum tipo de representação de ordem ideológica ou cultural.

Assim, tomando a intervenção emancipatória como prática, compreende-se que o processo educativo se desenvolve pela ação colaborativa de professores, no qual o professor não é objeto ou ferramenta de reprodução de conhecimento e informação já produzidos e sim partícipe ativo, trabalhando na perspectiva de contribuir para que todos os sujeitos envolvidos se reconheçam como criadores e produtores de conhecimentos, de teorias e de práticas de ensinar e de aprender, e, a partir daí, desse ponto de interpretação e ação, transformando e mudando o contexto e o papel da escola.