Música, Neurociência e Aprendizagem - É bom estudar ouvindo música? - por João Rilton

Neurociência

10 Novembro, 2017

No texto de hoje vou abordar um questionamento que sempre ouço nas palestras que ministro sobre música e neurociência: é bom estudar ouvindo música? A minha resposta é que depende da situação. Pesquisas feitas ao redor do mundo chegaram a conclusões variadas sobre esse assunto. Uma recente pesquisa britânica incentiva o uso da música durante o estudo e salienta que o gênero musical deve ser adequado ao conteúdo estudado, inclusive mostrando que estudantes que ouvem música clássica antes de uma prova de matemática podem obter um desempenho 12%  melhor do que os que ficam no silêncio. O que podemos dizer com certeza é que ouvir música momentos antes de estudar potencializa o foco, a atenção e gera um relaxamento que é muito propício ao aprendizado. 

Uma pesquisa americana testou essa possibilidade da seguinte forma: foram separados quatro grupos de estudantes com a proposta de fazer a leitura de um texto para uma posterior interpretação. Todos os estudantes usavam fones de ouvidos, e para cada grupo foi proposto uma interação diferente com o som. O primeiro grupo leu o texto e ouviu, no fone de ouvido, uma só palavra repetida intermitentemente, a intenção era reproduzir um ambiente com algum ruído específico, como por exemplo, um ventilador. O segundo grupo leu o texto e ouviu várias palavras pronunciadas de forma aleatória, aqui a intenção era gerar o efeito de pessoas conversando ao redor do estudante. O terceiro grupo ouviu uma música que não apreciava, no caso específico dessa pesquisa foi usada uma música do gênero trashmetal. O quarto grupo ouviu uma música que pertencia ao seu gosto pessoal. O resultado mostrou que pouca diferença havia entre o primeiro e o segundo grupo, ou seja, o grupo que ouviu somente uma palavra obteve o mesmo desempenho que o grupo que ouviu várias palavras. O grupo que ouviu a música que não era do gosto pessoal teve um rendimento mais baixo que o grupo que ouviu a música que apreciava.

Em uma outra pesquisa, agora francesa, alunos que assistiram uma palestra ouvindo Mozart obtiveram uma maior capacidade de assimilação do que foi dito, em contraposição a um outro grupo que assistiu a palestra sem ouvir música. Os pesquisadores acreditam que esse resultado se deu porque a música é capaz de ativar as emoções de uma forma diferenciada, e essa ativação é muito propícia ao processo de aprendizado. Nós devemos considerar uma informação muito importante nessa pesquisa: a música ouvida era uma música instrumental. O que as pesquisas indicam é que a música instrumental é mais eficiente que a música cantada, já que a atenção pode ser prejudicada por conta do cérebro ter que lidar com a interpretação do significado das palavras. Em contrapartida, uma outra pesquisa mostrou que algumas pessoas não são prejudicadas quando estudam ouvindo suas canções preferidas.

A conclusão que chego é que a música instrumental, seja ela clássica, jazz ou trilha sonora de filme, pode sim ajudar o estudante a desenvolver mais foco e concentração durante o estudo. Já a música cantada atrapalha o estudo por exigir do cérebro a interpretação das palavras, mas, como vimos anteriormente, algumas pessoas parecem não sofrer essas consequências quando estudam ouvindo suas canções favoritas. Eu já citei em textos anteriores o quanto a música é poderosa para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social.  A melhor maneira de descobrir se ela é boa ou não para você usar durante o estudo, é fazendo um teste pessoal e observando os resultados. Por tudo isso, Viva a música.