Música, Neurociência e Aprendizagem - Aprender um instrumento musical (por João Rilton)
10 Agosto, 2017
Não foram poucas as vezes que eu ouvi em uma conversa pessoal alguém dizer: eu sempre quis aprender um instrumento, mas não levo jeito para isso, não tenho talento. Também não foram poucas as pessoas que me relataram ter iniciado o estudo de um instrumento musical específico e logo depois abandonado. Esses momentos me levam a refletir que quando pensamos em adquirir a habilidade em tocar um instrumento musical, muitas vezes fazemos uma comparação, de onde queremos chegar, com músicos profissionais, com o resultado que eles conseguiram com a música. O que podemos não saber é que esses profissionais passam de quatro a cinco horas por dia em contato com os seus instrumentos, e que além de tudo isso, ainda ouvem outras duas ou três horas de música diariamente, de forma focada e consciente. Esse é o trabalho deles, a profissão que eles escolheram seguir, por isso toda essa demanda de estudo. Se usarmos esses músicos profissionais como ponto de comparação para nos nortear no aprendizado, então já começamos nos sabotando. Essa sabotagem também acontece quando fazemos uma aula experimental e tudo parece difícil, pensamos logo que o alvo é inatingível e logo desistimos da idéia, sentimos que não vai dar em nada, que não temos "dom" para música, e então, perdemos a grande chance de aprender um instrumento musical e desenvolver uma habilidade tão rica quanto falar uma nova língua, aliás, é isso que a música é, uma forma de comunicação, uma linguagem que ativa todas as áreas cerebrais e auxilia o desenvolvimento motor, a acuidade visual, a percepção e desenvolvimento auditivo do nosso cérebro, mantendo-o criativo e ativo no cotidiano.
Temos uma gama imensa de instrumentos que podemos aprender, desde o popular violão, a tão cobiçada guitarra, a tribal bateria, passando pelo clássico e engenhoso piano - hoje com a uma variação "light" denominada teclado - até chegarmos aos instrumentos orquestrais como o violino, que requer um desenvolvimento auditivo vigoroso, o tão sonoramente brasileiro clarinete, ainda temos o trompete a gaita ou quem sabe o violoncelo, mas nesse caso o preço do instrumento pode ser um empecilho, daí a grande necessidade de trabalhos sociais que envolvam o aprendizado de instrumentos musicais e que forneçam à pessoas de baixa renda a oportunidade de aprender música utilizando um instrumento de qualidade, que possa contribuir com o desenvolvimento musical do estudante.
Aprender um instrumento musical é aprender uma nova habilidade que pode auxiliar em várias outras áreas do desenvolvimento cerebral. São muitas as pesquisas que relacionam a exposição de crianças pequenas à aprendizagem de um instrumento musical ao melhor desempenho da fala e da escrita, assim como uma melhora significativa na memória de curto e longo prazo. Também colhemos relatos de melhora na qualidade de vida em pessoas adultas e em pessoas idosas, que se atrevem a começar o aprendizado de um instrumento. Nesse caso é necessário que o professor tenha estratégias específicas e respeite o tempo de aprendizado de cada aluno. Oportunidades não faltam. Hoje podemos estudar um instrumento musical, de forma básica e satisfatória através da internet, sem gastar um real sequer. Outra dica para quem quer começar e não sabe por onde: estude Ukulêlê, um instrumento havaiano que se parece com violão em miniatura e é muito fácil de se aprender. Por tudo isso. Viva a música.