Música Neurociência e Aprendizagem - A percussão corporal
09 Maio, 2017
A percussão corporal
Uma questão preocupante por parte de educadores que querem utilizar a música em sala de aula é o problema instrumental: a falta de instrumentos musicais como tambores, chocalhos, escaletas, xilofones e flautas. Parece ser difícil estimular os alunos a praticar música sem ter instrumentos musicais. Porém, posso afirmar que já dei muitas aulas de música sem nenhum instrumento musical presente e essas aulas não deixaram de ser interessantes e participativas. Uma das saídas viáveis, e na minha opinião uma ótima saída é o uso do canto. Usar a própria voz é uma excelente opção, é algo estimulante para o cérebro, porém para se ter um trabalho aprofundado usando a voz é necessário que o professor tenha habilidades vocais suficientes para controlar a afinação e a respiração do grupo. Isso parece ser o início de uma complicação para aqueles educadores que tem menos afinidade com a questão vocal. Mas, temos uma outra opção, pouco usada no país, mas de muita eficiência quando falamos de desenvolvimento cognitivo e motor: a percussão corporal, ou Body Percussion.
A percussão corporal é uma prática humana que nos acompanha desde os primórdios da humanidade, quando utilizávamos os sons do corpo para imitar a natureza e os animais e também para declarar guerra ou paz. Os escravos africanos utilizavam a percussão corporal para poder se comunicar sem serem percebidos. Eles não podiam utilizar instrumentos, porque os senhores de escravos sabiam que eles tinham habilidades de comunicação através dos tambores. Por isso, usavam o corpo: eles davam leves tapas no peito, nas pernas e nas coxas. O grupo brasileiro Barbatuques é hoje um dos nomes mais famosos no cenário mundial da percussão corporal.
Quando o professor utiliza exercícios de percussão corporal em sala de aula, atividades cerebrais no córtex motor, no córtex pré-frontal e cerebelo são desencadeadas. Os exercícios são verdadeiros tônicos para a concentração, para o foco, para a coordenação motora e para o refino do processo de habituação: um processo importantíssimo para que tenhamos uma aprendizagem mais profunda e com mais durabilidade. Os exercícios são encarados como desafios para os alunos, são exercícios que são bem recebidos pela grande maioria deles. É claro que os professores devem receber treinamento para utilizar essa ferramenta caso queiram obter resultados diferenciados na sala de aula. O treinamento de percussão corporal pode ser oferecido para professores de todas as áreas acadêmicas, do infantil ao ensino superior, é uma prática para todas as idades, que além de estimular o cérebro, do professor e do aluno, também facilita o processo de socialização e inclusão social.
Tornar a educação mais interessante para os alunos parece ser a bola da vez das possibilidades de melhora no processo de aprendizagem. Para isso, o educador deve se atualizar e buscar ferramentas para usar em sala, além de se autoconhecer para fazer uso diferenciado e inovador das ferramentas aprendidas. A música oferece um amplo espectro de possibilidades para a proposta de se inovar na educação. Seja através do uso da voz, da dança, de instrumentos caseiros ou profissionais, da escuta consciente, das cantigas de roda e do uso dessa ferramenta poderosa e disponível para todos os alunos: a percussão corporal. Por tudo isso: Viva a música.