Inclusão na Prática - Professor, pondere: seu aluno te entende! - por Maibí Mascarenhas
20 Outubro, 2017
Ser professor não é uma tarefa simples. Metas, avaliações, planejamentos, metodologias variadas, demandas das mais diferentes origens e a formação global de diversos indivíduos concomitantemente são apenas algumas funções da vida docente, sendo comum a constante troca de ideias entre colegas de profissão nos corredores das instituições de ensino. Entre uma aula e outra, no refeitório, durante brincadeiras no pátio ou na sala dos professores, conversa-se sobre tudo: exercícios, materiais didáticos, aquela oficina nova para aplicar com materiais artísticos e, é claro, situações de alunos. Este último tópico merece uma atenção específica, em especial sobre as crianças com deficiência.
Entre os docentes, muitas vezes, são feitos comentários sobre os estudantes na presença dos mesmos. Porém, percebo, ao longo da experiência, que algumas afirmações, opiniões ou dúvidas, principalmente sobre os alunos com deficiência, são feitos sem o devido cuidado e discrição, como se a deficiência os poupasse de compreender o que está sendo dito. Professor, friso aqui o título do texto: o seu aluno te entende, tanto em palavras quanto em ações.
Seguem alguns exemplos de frases já ouvidas, proferidas na frente das crianças:
- Não vou dar atividade pro meu aluno com autismo, porque ele quase nunca faz.
- Ele não dá conta de fazer aquela brincadeira.
- Deixe o PC (Paralisia Cerebral) ali do lado do parque, porque ele não consegue brincar, mesmo...
- Essa criança só faz o que ela quer (sobre um aluno com deficiência intelectual).
- Nenhum amigo quer ficar perto dele.
- Eu não sei o que fazer com ele.
Algumas colocações são um pedido de orientação. Outras, a sensação de dificuldade em promover a inclusão. Parte delas, a manifestação clara de que o docente não acolheu aquele aluno. Some a elas atitudes como não adaptar um material a um aluno com deficiência visual, realizar uma brincadeira e sequer convidar o estudante com deficiência intelectual a participar e tantas outras possibilidades. Tais situações são mais frequentes do que se imagina e não passam desapercebidas.
Caso haja dúvidas se o seu aluno está compreendendo, é importante ressaltar que o autista, por exemplo, muitas vezes não consegue corresponder ao esperado socialmente, mas tem uma memória sensacional e absorve o que é dito ou realizado. O Down, por sua vez, mesmo que precise de muito mais estímulos para registrar uma informação, sabe distinguir quando está sendo incluído ou excluído de uma atividade. E, dentre outros casos, mesmo que o seu aluno não possa falar, andar e/ ou enxergar, não quer dizer que não esteja compreendendo. O grau de entendimento e sensibilidade são maiores do que se supõe.
Então, educador de alunos com deficiência, para que você obtenha melhores resultados, cuide das palavras e das ações. Coloque-se no lugar do aluno, ouvindo determinados comentários e acompanhando atitudes. Ao seu lado, pode haver alguém com grandes barreiras para se manifestar, necessitando ainda mais da sua ponderação e acolhimento, atento aos seus gestos, observações e intenções.