Inclusão na prática - O que fazer quando a classe resiste à inclusão?

Inclusão

20 Agosto, 2017

Vamos imaginar a seguinte situação: você, professor, assume uma sala de aula de 7o ano e sabe que terá um aluno com atraso no desenvolvimento global, por exemplo. Sua proposta de aula é inclusiva, o planejamento é alinhado e você sabe que o processo educativo tem tudo para conquistar novos degraus. Porém, no primeiro ou segundo dia, você percebe gracejos (descarados ou não), exclusão nos trabalhos em grupo e exposição negativa do seu aluno com deficiência por parte da turma. Como proceder?


Esta é uma dúvida comum entre os professores ao se depararem com esta situação. Ela é mais frequente na adolescência, quando a competitividade, as alterações hormonais e a necessidade de aceitação no grupo são muito mais latentes. Nestes casos, ações como sensibilizar e conscientizar são necessárias para que a convivência social não prejudique o desempenho escolar - ao contrário, colabore com ele e com o desenvolvimento global do estudante com deficiência, além de exercitar a empatia e a tolerância do grupo em linhas gerais.


Um estratégia interessante é explicar a situação, em linguagem acessível, para a turma. Deixe claro o que significa ter uma deficiência, suas barreiras e características no seu dia a dia. Uma conversa clara, sem a presença do aluno, com o viés de conscientização, é correta, útil e pode sensibilizar colegas que ainda não refletiram sobre a realidade do aluno com deficiência. Porém, nem sempre uma única conversa - ou várias - é a solução, visto que, muitas vezes, encontramos questionamentos frequentes e resistência em aceitarem diferenças, sejam elas quais forem.


Outra possibilidade mais enfática é o uso de dinâmicas de sensibilização. Abuse do lúdico para passar mensagens que explicitem a realidade de quem convive com frequentes barreiras e limitações, para que valorizem as próprias habilidades e compreendam a necessidades de adaptações. Seguem sugestões:


- Para deficiência visual: dinâmicas em que parte da turma fique de olhos vendados e a outra parte da turma a conduza em tarefas do cotidiano. É interessante alternar as funções e criar situações como experimentar alimentos de olhos fechados, tentar ler em Braille ou se localizarem sozinhos de olhos fechados na sala de aula.

- Para deficiência auditiva: delimitar que, durante um período, todos se comunicarão apenas por gestos ou leitura labial. Você poderá colocar metas como avaliações, contar uma história apenas com imagens e brincar de telefone sem fio em Libras.

- Para deficiência física: há diversas possibilidades, dentre elas, andar somente com um pé por determinado período, escrever com os pés, grafar com a mão menos habilidosa ou gincanas que limitem o uso de habilidades físicas. Enquadre de acordo com o contexto específico da sala de aula.

- Para deficiência intelectual: crie uma avaliação  ou um exercício, por exemplo, em um idioma desconhecido pelos alunos. Pode ser exigido também um trabalho escolar sobre uma informação nova, de difícil compreensão, cuja qual tenha sido explanada de maneira muito rápida e extremamente superficial. Esta ação permite concretizar a dificuldade  em entender e aplicar conteúdos escolares diante dos graus de dificuldade de aprendizagem existentes nos vários quadros de deficiência intelectual.

- Para superdotação e altas habilidades: faça exatamente o inverso da sugestão anterior. O superdotado e o alto habilidoso também precisam ser compreendidos.

- Para deficiências em geral: conte histórias com fantoches, livros temáticos, traga filmes, animações, construção de materiais inclusivos, debates e todas as estratégias lúdicas que promovam a reflexão sobre o tema.


Geralmente, a pessoa que passou por uma determinada situação tende e se sensibilizar mais diante dos que passam por dificuldades semelhantes. Esta técnica pode colaborar em sua atuação docente, bem como na gestão escolar, caso a exclusão venha do grupo de professores que você gerencia. Mas o principal é a possibilidade de desenvolverem outros (e melhores) olhares sobre o aluno que busca condições, através de nós, educadores, para o seu desenvolvimento, autonomia e felicidade*.


*Trecho extraído do livro "Metodologias de ensino para Educação Inclusiva", de Maibí Mascarenhas.