Inclusão na Prática - Em primeiro lugar, calma! - por Maibí Mascarenhas

Inclusão

20 Abril, 2018

Experiências apontam que o descontrole, desespero ou raiva aumentam consideravelmente quando você já está nervoso e alguém te diz para ter calma. Brincadeiras à parte, some a uma situação de conflito 28 pré-adolescentes, 02 tarefas acadêmicas, um surto de aluno com deficiência e uma ameaça de ferimento a ser causado com uma tesoura. Calma é um sentimento que não se costuma ter nestas situações.

Se eu estivesse em frente aos colegas docentes leitores, tenho comigo que todos teriam relatos de ocorrências conflituosas, tensas e/ ou perturbadoras, tendo alunos com deficiência envolvidos ou não. Porém, gostaria de focar especificamente nos quadros de surtos e descontroles emocionais ocasionados por alguns contextos de deficiências intelectuais.

Surto, dentre outras definições, significa arrancada, engrandecimento, impulso e irrupção. Quando, portanto, uma criança com deficiência surta, há uma diferenciação contrastante no padrão de comportamento, causando diversas possibilidades de alterações, como: gritos, agitação corporal, estereotipias, agressões, automutilações, choro e outras.

Agora, raciocine: se há uma pessoa desequilibrada ao seu redor, em especial uma com alterações no desempenho intelectual, em que ajudará você também perder a calma? Pode parecer um conselho simples, mas não o é quando seu aluno deficiente intelectual, em surto, ameaça atacar um colega com uma tesoura. A tendência da nossa espécie é se defender e proteger os mais frágeis, pelos quais sejamos responsáveis naquela situação.

A instrução principal é evitar se alterar ou simplesmente repetir comandos de ordem. Se aquele cérebro não funciona como os demais, a sua abordagem também pode ser diferenciada para solucionar o conflito, independente do motivo que o tenha causado. Em primeiro lugar, mantenha todos em segurança, sentados, afastados da pessoa, atrás das carteiras ou, se não estiverem em risco, simplesmente os mantenha onde estão. Em segundo lugar, tente descobrir rapidamente o motivo da alteração de comportamento. Em terceiro lugar, trabalhe o desfoque. Tirar o aluno do foco motivador do surto (caso não seja uma dor ou outra causa orgânica mais complexa de se solucionar) é um recurso fundamental para tranquilizá-lo. Em quarto lugar, mantenha a clareza da sua voz e, ao mesmo tempo, o acolhimento. Não ceda a eventuais provocações, por mais intensas que sejam, porque a pessoa que surta precisa, acima de tudo, de ajuda e encaminhamento. Utilize música, objetos, hiper focos, conversas, solicitação de realização de tarefas... Tudo o que for bom e útil, vale. Não entenda como uma questão pessoal com você, professor. A principal demanda é da pessoa com ela mesma. E sempre, sempre, mantenha a calma.

Pode parecer desafiador, mas tornar um hábito não se desequilibrar colaborará na reorganização intelectual e emocional não somente do aluno, mas da sala inteira. É natural falharmos quando há o fator surpresa, mas a experiência e o treino docente dão frutos mais rápido do que se imagina. Vale a pena.